Antes de mais nada, Laurent fez do luxo um sinônimo de savoir-faire, perfeição, bem acabado, uma representação da mulher “certinha”. Inicialmente ele criou 6 coleções de grande impacto e sucesso para a maison Dior. Entretanto, de diretor criativo, queridinho da Dior, Yves passa a esquecido, aos 24 anos de idade.
Sobretudo, a mente criativa de Yves não resistiu a uma convocação militar, quando seu país natal, a Argélia, conflagrou uma guerra para se tornar independente da França. O impacto emocional da iminente entrada em uma batalha resultou em um colapso mental que o levou à internação.
A volta por cima
Contudo, apesar de ter deixado a clínica sob o estigma de doente, Yves contou com o apoio do companheiro Pierre Bergé, antes casado com o pintor que fez o retrato de Dior. Pierre, empresário, também conhecido como “o Cobra“, se apaixona por Yves, e, sendo assim, vai atrás de investidores para Maison de seu amado.
Contextualizando o momento: em 1957 Pierre Cardin representava o início do futurismo, a modernidade. Enquanto isso, Bergé coloca as peças de Yves em Tóquio, Londres e Nova Iorque.
Poucos anos depois, em 1961, os baby boomers começavam a sacudir Londres, representando a ruptura típica da chegada de uma nova geração. Paralelo a isso, Yves pede indenização judicial a Dior, por tê-lo demitido enquanto estava na clínica, em recuperação, e obtém ganho de causa.
Além do ganho judicial, a nova Maison de Yves tira cerca de 40% dos funcionários da Dior, contratando-os para seu novo empreendimento. Simultaneamente, uma modelo e amiga de Yves espalha a notícia, em um salão de beleza de Paris, que Yves estava de volta.
Ela e uma amiga são fotografadas nas ruas de Paris com modelos criados por Laurent. Assim como, Bergé consegue um investidor norte-americano para a nova maison.
Ainda em dezembro de 1961 abre oficialmente a Maison Yves Saint Laurent. Na sequência, em janeiro do ano seguinte, ocorre o primeiro desfile da marca. O evento personifica uma nova forma de ver a opulência, o excêntrico, o exótico. Consequentemente, o desfile é aclamado pelo público e pela crítica, com criações radicais e inovadoras.
Ao passo que as novas coleções de Yves incluem o blazer com ombros marcados, azul marinho, e calça branca para mulheres, ou seja, roupas típicas do universo náutico. Também exibem linhas modernas, sem frufru, sem babado, sem rendas.
Nesta mesma época, os vestidos passam a ser definidos não por nomes, e sim por números. Outra novidade é que as estampas do forro dos casacos combinam com as estampas dos vestidos. Ombros bem colocados, rigor, corte perfeito. Yves recria o guarda-roupa para quem viaja.
Curiosidade: em 1964 Chanel convida Bergé para jantar e para trabalhar com ela. Pierre manda flores no dia seguinte e eles nunca mais se falaram.
Coisas que você não sabia sobre YSL
- O primeiro vestido famoso da era pós Dior é o modelo trapézio.
- Em 1965 é lançado o vestido inspirado nos quadros de Piet Mondrian.
- Em 1966 começa a democratizar a moda com o prêt-à-porter (pronto para usar).
- Início de um contexto provocador e libertário feminino, com mulheres usando calças.
- Yves transforma o smooking em uma roupa feminina para a noite.
- Conjuga o feminino e o masculino, trazendo o poder, pois a mulher está vestida com as armas masculinas.
- Cateryne Denive é sua maior musa.
Na sequência, em 1968 surge a túnica em sarja ou linho estilo caçador. Yves sempre empodera a mulher com indumentárias tradicionalmente masculinas.
Ousado, em 1971, com 35 anos, Yves Saint Laurent tira a roupa para promover seu perfume. No mesmo ano, Yves lança a Coleção Escândalo, inspirada nos anos de guerra, marcada como uma referência ao tocar na ferida da Segunda Guerra Mundial. “As modas passam, o estilo é eterno.” Yves
A Coleção Balé Russo é criada em 1977. O resultado, novamente, é sucesso, consagração da carreira, e o conceito de desfile espetáculo. Também é lançado o perfume Opium, forte, concentrado, caro. Havia uma versão mini do frasco que era usada como pingente em um colar.
Ao passo que, em 1982, no auge da carreira, Yves recebe o Prêmio Internacional do Conselho Americano de Moda e é inaugurada uma exposição retrospectiva de suas coleções, em um museu. Em 1983 YSL entra para o dicionário francês como referência de cultura e recebe o Oscar de melhor costureiro.
Sua maison passa a ser cotada em bolsa na valores em 1989. No ano seguinte Yves inova com criações que priorizam a simplicidade e a pureza de formas. Peças difíceis para as costureiras executarem tais como foram idealizadas. Perfeccionista, para uma centena de modelos Yves fazia mil croquis.
O adeus do mestre
No início dos anos 2000, Yves realiza um desfile final retrospectivo, aos 66 anos. Logo depois ele passa a direção criativa para o jovem Tom Ford.
Enfim, em 2008, Yves se vai, aos 71 anos. “A roupa mais bonita que uma mulher pode vestir é os braços de seu amado, e se não tiver um amado eu estou lá por elas.” Yves
O museu YSL é inaugurado em 2017, em Paris. “Minha arma é o olhar que eu trago sobre a minha época.” Yves
Além de Cateryne Denive, Yves Saint-Laurent teve outra grande musa: Loulou de La Falaise. Loulou era uma grande amiga, responsável pelos acessórios da Maison desde de 1972. Ela ousava nas cores e tamanhos dos acessórios. “É preciso se divertir com a moda”, acreditava Loulou. Ela se foi em 2011, com 65 anos.